Justiça lenta: Liberação de indenização ajudaria no tratamento

23/06/2009 15:24

 

Como a Camila está sem tempo para escrever, vou contar hoje como está sendo o processo de recuperação da minha filha durante todos esses anos. Logo no começo, percebemos que a lesão era tão grave, que precisava de muitos profissionais especializados e o tempo de tratamento seria longo. Camila começou na ABBR-RJ, com terapia cardio-respiratória, terapia ocupacional, ginásio, hidroterapia, psicoterapia e estímulo elétrico, sempre com a supervisão da doutora Ana Luiza. Graças a esse atendimento, Camila foi recuperando um pouco os movimentos dos ombros, dos braços e já conseguia ficar bem na cadeira de rodas. A prescrição de medicamentos (como Sinaxial, Sigen e NUcleo CV.M.P) contribuiram, também, para suas melhoras. Não falarei da dor do dia-a-dia, quero escrever sobre os tratamentos que conheci, lendo na biblioteca da ABBR, e que recebi de pessoas que se comoveram com o nosso drama. Aprendi um pouco sobre "lesão medular" , das sequelas e da importancia no funcionamento de nosso corpo. Escrevi uma cartilha (a pedido de Camila): "Medidas preventivas para portadores de lesão medular", com o objetivo de informar aos pacientes e familiares como evitar sequelas e outros cuidados importantes. Ela está disponível no site e na ABBR. (a distribuição é gratuita).

O diagnóstico de Camila era:  tetraplégica completa, lesão nível C-06 e 07, por bala. Não davam esperança dela sequer ficar em pé. Ela saiu da ABBR bem emocionalmente e reintegrada para a vida social. Somos grata por tudo que eles fizeram. Nas instituições públicas, o tempo de fisioterapia é pouco e os profissionais trabalham com grupos, por essa razão a recuperação é lenta ou nula; o tratamento tem de ser personalizado pois cada lesão é diferente e o tempo não menos que uma hora.

Camila, ao longo desses anos, fez hipoterapia, hidroterapia, acupuntura, massagem, estímulo elétrico, alternando conforme disponibilidade financeira mas mantendo a fisioterapia de solo. O trabalho é diário, árduo e necessita de muita força de vontade e determinação. Todas essas técnicas são particulares e o custo é alto, mas nota-se logo os bons resultados. Cada uma teve sua importância, em fases diferentes. Depois fomos para diversas clínicas, em São Paulo (www.clinicamorumbi.com.br) e para a Alemanha, onde o enfoque é outro. Localizamos, aqui no Brasil, alguns aparelhos importantíssimos para a recuperação, como Cicloergométrica com FES e o Biofeedback. Mas eles só existem no hospital da Aeronautica, na Ilha do Governador. Tudo isso deveria ser oferecido pela rede pública, pagamos tantos impostos e recebemos um péssimo tratamento na área de saúde.

Após o implante de células tronco olfativas, em 2006, feita pelo Dr. Carlos Lima (www.hegasmoniz.pt), Camila teve melhoras na sensibilidade, na força motora e pôde caminhar com aparelhos. A próxima etapa será o Centro Giusti (www.centrogiusti), onde ela fará 6 semanas de fisioterapia R.I.C. (Reabilitação Intensiva e Contínua). Camila, atualmente, é considerada uma tetraplégica incompleta, que difere das demais por que tem equilíbrio de tronco e recuperou todos os movimentos dos membros superiores.

Ela poderia estar melhor se o processo da "Indenização de Danos Morais e Materiais" tivesse sido julgado e liberado, ao menos uma parcela dos recursos financeiros. Mas a nossa Justiça não é agil para apreciar o caso. É uma situação constrangedora que deixa Camila triste. Teve que mostrar um caminho para a recuperação, mas não tem apoio do Judiciário, que insiste em definir em primeiro lugar quem foi o autor do disparo e não de resgatar a dignidade de uma inocente vítima da falta de segurança, que está presa em uma cadeira de rodas.

Muita paz. Anna Lúcia.

Fonte: Jornal Extra

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